Bronca: Manuela Moura Guedes arrasa Nilton

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A ex-jornalista da RTP e da TVI decidiu quebrar o silêncio numa entrevista dada a um jornal nacional.
Nesta grande entrevista, Manuela Moura Guedes fala da polémica que a própria causou ao sair, em directo, do programa “Barca do Inferno”, da admiração que tem por Paulo Portas entre outros assuntos.

NILTON e a Barca do Inferno da RTP Informação

E o “Quem Quer Ser Milionário”? Como surge o convite?

Surgiu da RTP, pela parte do Luís Marinho. E diverti-me imenso a fazer aquilo. O público era feito de pessoas fantásticas, das mais diversas proveniências… e eu criei uma empatia com o público que, afinal, é parte do espectáculo. Aquilo, nos intervalos, era uma coisa extraordinária: desde dançar valsa ou o tango com alguns que eram dos Alunos de Apolo até fazer discursos – alguns chamavam-me Evita Perón. Acabou por ser muito divertido, porque era outro registo, mas utilizei muito a minha experiência de jornalista. Mesmo na pesquisa das perguntas, tentei que o nível se elevasse um bocadinho para incutir a aprendizagem. Tentei que o critério não fosse o das perguntas para curiosos que lêem coisas estranhíssimas, aquelas perguntas malucas, mas sim o de perguntas de cultura geral, de facto. Perguntas que ensinem coisas às pessoas. Claro que a partir de um certo nível tem de haver perguntas estranhas e realmente mais difíceis. E depois tentava, nas conversas com cada concorrente, perceber como estava o país, como é que as pessoas viviam. Não me focava tanto nas histórias pessoais e particulares de cada um. Mas isso vem da minha experiência como jornalista. Adaptei-me a um formato que não é o meu e acharam-me muito simpática. E eu pensei: que engraçado, a imagem que têm de mim é a da bruxa má. E eu sou tudo isso, só que tenho de me adaptar às coisas, não é?

Alguma vez tem saudades, gostaria de voltar atrás no tempo?
Sabe do que tenho saudades? Agora naquela novela “A Única Mulher” toca uma música que é “Foram cardos, foram prosas”, e eu oiço aquilo e traz-me alguma nostalgia. Porque aquilo é a minha voz mas naquela altura, naquele tempo. E traz-me nostalgia. Para já, porque é uma coisa que eu não segui. Foi uma coisa que me deram a oportunidade de fazer, que teve imenso sucesso, mas que eu não continuei. Nem sabia o que aquilo daria. Mas foi assim uma coisa! Agora olho para aquilo e oiço-me, e às vezes nem me lembro de que sou eu. Também porque eu não sou pessoa de me ir ver, não vejo coisas de antigamente. E aquilo sou eu noutra época, com outra voz… é outra coisa.
Mas nós somos muitas coisas. A Manuela fez música, entretenimento, informação, foi deputada…
Sim, sempre fui muitas coisas. Fiz tudo o que me deram oportunidade de fazer.

E agora, se pudesse, o que seria?
Eu sou isso tudo. Em termos profissionais? Não sei…

Se tivesse uma oportunidade para voltar à televisão, não voltava? Para fazer o que fazia antes?
Para fazer jornalismo? Tinha de ser à minha maneira. Não é à minha maneira, é à maneira séria. Mas sim, se me dessem essa oportunidade, voltava.

Recentemente esteve no programa “Barca do Inferno”. Porque aceitou o convite?
O director de informação da RTP, o José Manuel Portugal, disse que gostava muito que eu participasse num programa de debate. Eu disse que sim e ele disse que iam pensar nas outras pessoas. A certa altura, dei com aquele preenchimento. Não fui eu que o escolhi. E só com mulheres, que é uma coisa a que eu fico alérgica.Era preferível que tivesse sido de luta na lama, era mais sério do que aquilo. Aquilo não era um programa sério. Para já, com aquele moderador, que é um humorista. Mas há humoristas que podem moderar, e aquele nunca o fez. Nunca quis moderar. Estou a dizer que nunca quis porque ele voluntariamente queria, muitas vezes, atiçar-nos umas contra as outras. Não sei, se calhar acha graça a que as mulheres se piquem.

Isso dá audiência.
Pois, mas a certa altura ninguém nos conseguia ouvir. Eu saí de lá algumas vezes de lágrima no olho – também típico de mulher. Mas era insuportável, havia alturas em que era impossível discutir. E eu não podia mandar pessoas à merda. Mas dava vontade, às vezes, de dizer: “Peço imensa desculpa, mas vou mandar aqui a minha colega… bardamerda.” Não se pode, não é? Em televisão, não se pode. Mas dá vontade, porque disseram-se ali coisas extraordinárias.

Por exemplo?
Sei lá, que não há dívida. Que eu não tenho de pagar dívida porque não contribuí para a dívida. Uma confusão entre Estado e governo, inclusivamente. Enfim. Que se era contra, que se queria a falência das empresas, dos bancos, e que seria o pleno emprego… é uma equação difícil de resolver.

Como conviveu com o programa, então?

Mal. Mas tinha-me comprometido.


Mas um dia levantou-se e foi-se embora…

Eu tenho uma regra em televisão. Aguentei o Marinho e Pinto sem lhe dizer o que pensava. E aguentei estoicamente ouvir as maiores enormidades, o que com o meu feitio não é fácil. E há pessoas com quem não se pode dar uma resposta porque aquilo dá peixeirada da grossa. E em televisão não se pode fazer isso, mesmo que a pessoa esteja a ouvir o pior. Portanto, aguentei. Tal como aguentei insultos inacreditáveis na Barca do Inferno e tive de estar calada. Porque se eu respondesse à letra, se calhar aquilo até à chapada ia. Mas sou profissional de televisão. Sei que há um determinado limite que não dá. Portanto, das duas, uma: ou respondia ou amochava. E ficava ali a deitar fumo.

Optou pela terceira alternativa. O que fez saltar-lhe a tampa?

Já tinha sido demais. Eu estava a perguntar à Isabel Moreira coisas sobre o programa do PS e ela virava a cara. Eu falava com ela, insistentemente, sobre a história do consumo e como isso ia garantir emprego, e ela, em silêncio, olhava para o outro lado, por cima da burra. E eu voltei-me para o Nilton e disse: “Ó Nilton, modera. Modera.” E ele achou que aquilo tinha sido uma ofensa, porque ele queria que a coisa escalasse. E disse para eu ter mais educação. E eu, ou respondia “Nilton, devias moderar, que é coisa que não tens feito” – e aí as duas iam saltar em cima de mim e aquilo ia ser muito bom para audiências –, ou ia-me embora. Preferi ir-me embora.

Foi um momento de ruptura total.
Já o devia ter feito antes. Cheguei a ir para casa a chorar. Chegou uma altura em que era o Nilton que escolhia editorialmente os temas do programa com as duas – as duas de esquerda, bem entendido. Uma não discutia nunca Sócrates. Na altura da prisão de Sócrates, elas diziam que aquilo não era assunto! Que era um tema da justiça. Não se discutiu! Acabou por não haver programa nesse dia. Segundo eles, eu tinha problemas pessoais com o Sócrates. “Depois disto tudo, vocês dizem que eu tenho problemas pessoais com o Sócrates?” Bom…

Continua a não fazer cedências, portanto?
Como se vê, continuo. Se fizesse cedências, já teria emprego. Mas essa experiência foi muito dolorosa. Eu tenho sempre este azar: até queria fazer um programa de debate, mas tinha de me calhar esta composição? Uma deputada do género (risos), de esquerda-caviar [Isabel Moreira]; a deputada “wannabe”, que não é deputada e que gostava de ser da esquerda-caviar [Raquel Varela], uma investigadora que a qualquer momento dizia que era investigadora de conflitos laborais, no meio de 50 mil investigadores que há em Portugal. E depois, vá lá, havia a Sofia Vala Rocha, que tinha os pés assentes na terra. Tivemos uma estreia de programa fantástica, com a Marta Gautier, que suponho que também foi escolha do outro humorista… enfim, tenho sorte.

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