” NO EM QUE A TELEVISÃO MORREU
Era o tempo dos pioneiros da televisão. Uma aventura, num mundo quase desconhecido onde a grande conquista diária era fazer programas e emiti-los. A criatividade mais o entusiasmo, e a ingenuidade aliada ao prazer do risco, fizeram a RTP a quem toda a gente chamava a Televisão. Eu era o miúdo, curioso e fascinado por aquele mundo e aquela gente que não trabalhava em televisão…vivia, respirava, transpirava televisão. Lembro-me das caras e dos nomes. Muitos foram partindo daquela vida , muitos mais desta vida.
E a RTP continuava a ser carinhosamente chamada por Televisão. Não havia shares, nem ratings, nem estratégias de programação ou contraprogramação. Havia amor pelas obras que saíam todos os dias assim como quem desbravava, mares, ou ondas hertzianas, nunca dantes navegados. A Televisão foi feita por sonhadores esforçados que o tempo foi levando. Restava um que tinha casado com a sua paixão, a RTP, o serviço público, Luís Andrade.
Saía tarde, chegava muito cedo, deitava a mão a tudo o que fosse necessário para se fazer mais e melhor. Ensinou outras gerações pelo exemplo e eu sou o que sou porque aprendi a fazer televisão com poucos ovos, mas com o tempero da transpiração e alguma inspiração.
Luís Andrade amava o que fazia e admirava os que amavam como ele a RTP, a nossa televisão.
Partiu no dia 6 de Abril de 2013 e deixou um lugar vazio no cockpit do comandante desta nave espacial onde cabe o mundo visto lá das alturas. Eu sou de chorar, choro à frente das câmaras sem vergonha e hoje choro o dia em que a televisão morreu.
Merecer aqueles que a fizeram é a obrigação dos que cá estão e daqueles que virão. Se não, o Luís ficará muito triste na nuvem onde se senta para ver todos os dias a RTP. A Televisão!”, escreveu o apresentador da RTP
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