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Foi à VOX POP TV, que a jornalista da RTP, Andrea Neves, quebrou o jejum de mais de 5 anos sem dar uma entrevista a um meio de comunicação social.

“O PERDÃO É UMA FORMA DE VINGANÇA” – Shakespeare
A minha convidada desta semana, nasceu a 25 de Janeiro de 1970, na Covilhã e reside atualmente na cidade do Porto. O pensamento acima referido é um dos seus preferidos. Nos tempos livres gosta de entre outras coisas, passear o seu cão, tocar piano, ir ao futebol. O Amarelo e o Azul são duas cores e que mais gosta. A Ansiedade é um defeito que aponta a si mesma, odeia quem mal trate os animais. Um desejo é o de “Viajar num submarino e também de chegar ao fim da vida e poder dizer todas as palavras do “My Way” do Frank Sinatra.” Já foi professora de música e advogada. Mas é no jornalismo que se encontra à já vários anos, onde superou grandes provas de fogo como por exemplo os atentados de 11 de Setembro de 2001 ou no acidente da queda da ponte de Entre-os-Rios, onde conduziu e assegurou largas horas de emissão no ecrã da RTP1. Provas dificeis mas bem superadas por toda uma equipa que se encontra por detrás das camaras e que sao fundamentais, sem eles nada disso seria possível, como faz questão de frisar. Já apresentou o “Regiões”, o “Consultório”, o “Jornal da Tarde”, o “Bom Dia Portugal”, entre outros programas na RTP. Há mais de 5 anos que não dava uma entrevista por sua decisão. Agora é chegado o momento de ,após todos estes anos, voltar a “ouvir” o que nos tem para dizer esta jornalista bem conhecida dos portugueses que, de segunda a sexta-feira entra pelas nossas casas através do “Portugal em Direto”. Faz parte da redacção da RTP-Porto e chama-se Andrea Neves.
Rui Cohen: A Andrea já foi professora de música e de piano. Como entra na sua vida a área musical?
Andrea Neves: Nasci e cresci na magnífica cidade da Covilhã. Ser Serrana e Beirã dá-me um imenso orgulho. Na altura não havia muitas coisas para fazer na cidade – para além de brincar na neve no Inverno – mas já lá havia um Conservatório de Música para o qual fui – como quase todas as crianças – assim que também fui para a Escola primária. Foi lá que passei alguns dos melhores momentos da minha vida… Corria do liceu para o conservatório, tinha dias cheios, poucas férias e o dobro dos estudos, mas aprendi valores que mantenho e amigos que ainda guardo. Para além disso consegui as habilitações necessárias para dar aulas de música o que me foi muito útil em vários momentos da minha vida antes da licenciatura.
Rui Cohen: E também já foi advogada…
Andrea Neves: Segui direito pela paixão pelo desporto. Sempre acompanhei o Sporting da Covilhã por questões familiares. Acreditava que antes de me licenciar ainda seria instituído em Portugal um Tribunal Desportivo. Ainda acredito 20 anos depois. Licenciei-me em Coimbra – que é mesmo uma lição – e fiz estágio no Porto com um dos advogados que na altura mais trabalhava em casos de direito desportivo. O sonho ainda não morreu… Mas, muito provavelmente a advocacia para mim só voltará a fazer sentido quando esse tribunal surgir.
Rui Cohen: Como deu o salto até ao jornalismo?
Andrea Neves: Na Covilhã, no tempo das rádios piratas, na Rádio Clube da Covilhã. Comecei por lá fazer um programa sobre música clássica e fiquei. Éramos como uma família a trabalhar com vinil debaixo do braço e um estúdio forrado com caixas de ovos que ficava num anexo dos bombeiros voluntários. Tempos magníficos que me despertaram para a comunicação. O bicinho ficou e fui sempre fazendo rádio. Estava a fazer estágio de advocacia no Porto quando surgiu a hipótese RTP. Concorri e fiquei até hoje.
Rui Cohen: Quer dizer que é no jornalismo que se sente como “peixe na água”?
Andrea Neves: também… Eu adapto-me bem às necessidades da vida…sempre trabalhei e estudei ao mesmo tempo. As pós-graduações, o mestrado e agora o Doutoramento exigem muito auto-controlo e constantes adaptações. Mas, sim, sinto-me como “peixe na água” no jornalismo correcto, isento e respeitador dos direitos dos outros…Aliás as minhas áreas de estudo passam por aí… Todas as profissões têm limites e a dos jornalistas também e não devem ser esquecidas. E assim passei do direito desportivo para o direito da comunicação e não me arrependo. Mas também me sentia bem a dar aulas de música e na “barra dos tribunais”. Agora, tenho a imensa sorte de fazer o que quero mas também me aplico…para tentar ser uma jornalista isenta e empenhada suspendi a minha inscrição na ordem dos advogados e só já toco piano em casa. Não se pode fazer muitas coisas ao mesmo tempo ou algo é menos bem feito. Agora estou onde quero estar. Na RTP.
Rui Cohen: Manuela Moura Guedes acusou a informação da RTP de ser “cinzenta”. O que é que a Andrea tem a dizer sobre isto?
Andrea Neves: É uma opinião. Eu respeito todas as opiniões apesar de poder não concordar com elas. Sinceramente considero que a informação da RTP não é nem cinzenta nem tem todas as cores do arco-íris… tem as cores que os factos exigem em cada momento. Há notícias que podem pedir mais cor e notícias mais cinzentas. Dar cor os factos não é informação…e se eles forem cinzentos é dessa cor que devem ser apresentados… o importante são os factos, a nossa missão de informar e o respeito pelos direitos dos outros….é por isso que se chama informação, e deve ser apresentada com a “cor” que tiver, ou seja, sem adulterações que a tornem eventualmente mais apetecível aos olhos do público. Também é por isso que somos jornalistas e não pintores ou artistas.
Rui Cohen: Gosta do jornalismo praticado pela jornalista Manuela Moura Guedes?
Andrea Neves: Todos nós temos estilos diferentes e ainda bem que assim é… Desta forma, o público tem a última palavra e o poder da escolha… isso é o mais importante.
Rui Cohen: Vai ver o novo programa de Manuela Moura Guedes na SIC?
Andrea Neves: Não vou fazer nada para evitar de o ver ou para me obrigar a vê-lo. Mas é assim com tudo…
Rui Cohen: A data “11 de Setembro de 2001” foi uma prova de fogo na sua carreira de jornalista, não foi?
Andrea Neves: Foi, mas antes já tinha sido o caso “Manuel Subtil” quando se barricou na RTP, e o caso da queda da ponte de Entre-os-Rios. Depois ainda houve os atentados em Espanha e outras emissões de horas sem fim tanto no Jornal da Tarde como no Bom Dia Portugal. O importante é realçar que todas as provas de fogo pelas quais “dei a cara” só foram possíveis com todos os que a não deram: todos os jornalistas da redacção, realizadores, coordenadores, técnicos de som, técnicos de estúdio, os colegas que me “apontaram” as câmaras em estúdio, as assistentes de informação, todos os colegas da régie, as maquilhadoras, os produtores, até as senhoras do bar que prepararam alguma coisa para comer em estúdio. (e peço desculpa se me esqueci de alguém). A televisão é um trabalho de equipa. Não há milagres, ninguém faz nada sozinho. Eu apenas fui o rosto de uma equipa que em todos estes momentos fez tudo para que tudo fosse bem feito. É por isso que eu nunca digo: “eu volto amanhã”. Nas despedidas digo sempre “nós voltamos amanhã”… porque se eu voltar sozinha não há emissão, não há nada… Por isso foram provas de fogo sim, que superei com muitas ajudas e muito profissionalismo de todos os meus colegas.
Rui Cohen: Porque razão deixou ser pivô do “Jornal da Tarde”?
Andrea Neves: Há decisões que não me compete a mim tomar.
Rui Cohen: O “Síndroma de Peter Pan” faz parte da sua vida. A Andrea pode explicar melhor, aos leitores,´que tipo de doença é? (Risos)
Andrea Neves: Não é uma doença, é mais uma brincadeira para definir a minha forma de estar em certas situações… às vezes quanto tudo se torna insuportável eu brinco com a situação. Tenho um bom sentido de humor e rir faz bem à saúde… Por isso, em momentos mais delicados – sobretudo para mim – desdramatizo, sorrio e acredito que tudo vai correr bem… tal como as crianças fazem… decido que é melhor assim do que chorar pelos cantos… Claro que isto só se pode aplicar a coisas menos sérias.
Rui Cohen: E no seu dia-a-dia, como lida com este “Síndroma”?
Andrea Neves: Bem… eu e o Peter Pan já somos os melhores amigos… recorro muitas vezes a ele quando a minha doença de Crohn – uma doença inflamatória dos intestinos crónica – decide manifestar-se e tenho que ser operada ou internada. Sorrio e desdramatizo, ou tento. Felizmente os meus amigos e a minha família são o melhor apoio do mundo. E o Peter lá aparece para me ajudar a brincar com a situação e tentar não deixar os outros tão preocupados. Sou seguida no Hospital de São João no Porto pelo Professor Doutor Fernando Magro. Do sistema de saúde público só tenho bem a dizer. As condições do edifício não são as melhores, fica-se muito tempo na sala de espera das consultas externas, sim, mas o profissionalismo dos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar compensa.
Rui Cohen: O programa “A Loja do Cidadão” foi um sucesso, porque razão terminou?
Andrea Neves: Chamava-se “Loja do Consumidor” e era dedicado aos direitos dos consumidores. Já antes tinha feito um semelhante chamado “Consultório” sobre a mesma temática em 1999, e antes deste, um outro chamado “Olho Clínico” sobre saúde e direitos dos doentes em 1997. Contávamos com especialistas nas áreas em análise, telefonemas em directo e cartas dos telespectadores… tiveram o seu tempo. Agora há outras formas de fazer este tipo de serviço público.
Rui Cohen: O “Portugal em Direto” tem sido um bom desafio?
Andrea Neves: Difícil, mas um bom desafio. Exige muitas viagens, muitos quilómetros de estrada para estarmos num sítio diferente em cada dia. O contacto com as populações e com o que elas fazem de positivo e aquilo pelo que lutam é muitas vezes uma lição de vida. Cada intervenção no Portugal em Directo é difícil de preparar: eu e o colega repórter de imagem que me acompanha – com a colaboração dos técnicos de comunicações que levam o carro satélite até ao local dos directos – temos feito de tudo. Aprendemos a “desenrascar” no terreno e isso é um desafio diário… mas como sempre gostei de trabalhar sem teleponto, nesse aspecto este programa é o ideal. E permite-nos conhecer sítios e gentes de Portugal que de outra forma nunca conheceríamos. Lá está, verdadeiro serviço público!
Rui Cohen: As redes Sociais, na sua vida, são um passatempo ou uma ferramenta de trabalho?
Andrea Neves: As duas coisas. Encontrei amigos que não via desde a escola primária. E pelas redes sociais ficam a conhecer-se notícias e iniciativas que normalmente não têm destaque nos jornais diários sobretudo as mais positivas. Nesses casos é uma boa ferramenta de trabalho.
Rui Cohen: Sente-se bem na RTP?
Andrea Neves: Sim, muito bem…. Volto a repetir: Estou onde quero estar e é pela RTP que visto a camisola.
Rui Cohen: A RTP-PORTO ainda continua a ser uma grande escola de jornalismo?
Andrea Neves: Sim, porque fazemos de tudo para todos os programas. Porque tivemos bons mestres. Porque nos exigem. Mas também aprendi muito nos anos em que estive a trabalhar em Lisboa. E muito nos centros regionais – sobretudo de Coimbra e de Bragança – com os quais já trabalhei no Portugal em Directo. Por isso acho que é melhor afirmar que a RTP (no seu todo) é uma grande escola de jornalismo.
Rui Cohen: Bom Dia Portugal, A Loja do Consumidor e Jornal da Tarde. Destes três programas que já apresentou, se tivesse de escolher um para voltar a apresentar, qual escolheria?
Andrea Neves: Não penso muito nisso. O que será, será.
Rui Cohen: Em 2011, qual seria “aquela notícia” que gostaria mais de dar aos portugueses?
Andrea Neves: Várias.
Primeiro as que podem melhorar a vida das pessoas claro: o fim do isolamento dos nossos idosos, o fim da fome nos nossos bairros (sim porque a há!) o fim do desemprego, a continuação da solidariedade com os que mais precisam, o fim das escolhas entre “compro o medicamento ou compro o jantar”, enfim… tantas.
Depois as que se referem aos animais (que adoro): o fim dos testes com animais só por causa de cremes para o rosto ou de um tal produto de limpeza, o fim do uso de matanças generalizadas só para algumas pessoas usarem inúteis casacos de peles, o fim do abandono cobarde dos nossos melhores amigos, o fim da crueldade que alguns humanos fazem sobre eles.
Depois de tudo isto uma já está dada: o Futebol Clube do Porto foi campeão nacional! (Acho que os meus avós não vão gostar de ler isto, como grandes e admiráveis benfiquistas que são!). E gostava de confirmar que o meu Sporting da Covilhã se mantem na Liga de Honra.
Rui Cohen: Já reparei que a Andrea gosta muito de animais, uma vez que falou sobre a violência que os animais sofrem. Tem algum animal de estimação?
Andrea Neves: TENHO UM CÃO VELHOTE QUE ADORO: O ÓSCAR
Rui Cohen: Já vi que também gosta de desporto. O que gostava que mudasse nesta área?
Andrea Neves: Gostava que de uma vez por todas terminassem as cenas de violência no desporto. Era saudável que o futebol fosse um desporto para ir ver em família. É saudável apoiarnos os nossos clubes … Mas a violência é má tenha a cor que tiver e sinceramente: JÁ CHEGA!
Rui Cohen: Como reagiu às saídas de Judite Sousa e José Alberto Carvalho da RTP para a TVI?
Andrea Neves: Desejo-lhes as maiores felicidades, são dois grandes profissionais!
Rui Cohen: Acha que Nuno Santos era a pessoa certa para a Direcção de Informação da RTP?
Andrea Neves: E porque não? Basta olhar para tudo o que já fez para perceber que tem ideias e coragem para as executar. E uma boa equipa ao lado dele na RTP. É o início de um novo ciclo.
Rui Cohen: Andrea Neves, agradeço-lhe o facto de me ter dado esta entrevista. Muito obrigado.
Andrea Neves: De nada. Agradeço também o vosso trabalho ao acompanhar o nosso!
Ficha Técnica:
Rui Cohen – Entrevista
André de Sousa – Revisão
Roger Carlos – Grafismo
Direcção de Informação VOX POP TV – 2014
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