Médica portuguesa: “Vocês que nos aplaudiram também nos apunhalaram pelas costas”

Uma médica portuguesa, Andreia Castro, acabou nas redes sociais a escrever um texto de desabafo pela situação que vive, ela, e todos os profissionais de saúde em Portugal.

“Pensei muito antes de escrever um post sobre aquilo que mais é falado, quando parece que nada mais há a dizer. São 6 da manhã e continuo serviço pela 2ª noite consecutiva. Quando dou por mim, são 4 noites numa semana. É só mais uma, e nós achamos sempre que aguentamos. O serviço precisa. A equipa precisa. O corpo não precisa há muito, e a alma fica todos os dias um bocadinho mais despida, um bocadinho mais deixada para trás nos corredores do hospital. Ontem ao chegar a casa após mais uma noite, as palavras do meu namorado foram apenas – “estás destruída”.

Quem trabalha em saúde e presta assistência a doentes covid (seja nos centros de saúde, lares ou outras instituições) vem trabalhar, volta para dormir e ainda salta refeições pelo meio porque a fome é secundária. Nós próprios queremos pedir ajuda, mas não sabemos mais a quem nos virar por apoio quando os principais pilares somos nós e todos nos querem arrancar um pedaço, à velocidade do freguês que chega com pressa para almoçar. Sim, vocês que nos aplaudiram também nos apunhalaram pelas costas.. e agora estamos nisto.

Queremos ajudar todos por igual, mas não conseguimos. Ouvimos reclamar por 3-6-12 horas de espera com direito a atendimento completo e dever de final feliz que não podemos prometer, quando nós vivemos esta realidade 24 horas sobre 24 horas há 12 meses. As pessoas não param de chegar. Telefonamos para aqui e para ali, envergonhados por pedir mais uma transferência de um doente grave. A maioria volta para as suas casas, mas muitos vêm diariamente para as nossas – de cabeça na almofada, revemos abordagens em que podiamos ter sido melhores, mais calmos, mais disponíveis, mais pacientes. Mas já não temos gás (e por vezes até cortesia, arrisco-me a dizer). Nós frontliners estamos exaustos, física e sobretudo emocionalmente. A preocupação rouba o pouco tempo ao descanso, e entretanto é altura de pegar no turno outra vez. Seguem-se mais 24 horas.

PS – máscara, distanciamento social e vacina. Só assim podemos voltar a ter uma vida normal.”, escreveu

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